Metodologias nas Comunidades Terapêuticas
Na Unidade Quinta Bianchi, a metodologia adoptada assenta no Modelo de Ocupação Humana, metodologia operacionalizada por uma equipa multidisciplinar. Este modelo de intervenção fundamenta a sua prática profissional na pessoa como Ser Ocupacional e na influência que as ocupações têm na saúde física e mental. A participação nas diferentes áreas de ocupação, nomeadamente, trabalho, actividades da vida diária (AVD´s), actividades da vida diária instrumentais (AVDI´s), o lazer, participação social, sono e descanso devem ser feita de forma equilibrada, garantindo saúde e o bem-estar.
Com o historial de consumo de substâncias psicoactivas, o desempenho nas diferentes áreas de ocupação fica comprometido essencialmente pela presença de hábitos nocivos e/ou pela presença de quadros psicopatológicos. Em consequência, os indivíduos normalmente desenvolvem desequilíbrios ocupacionais, marcado pelo desinteresse e abandono das suas ocupações, rotinas e papéis.
A intervenção psicoterapêutica tem sempre como base a reestruturação ocupacional da pessoa, com aquisição de novos ou recuperação de antigos papéis ocupacionais perdidos, a exploração de novas áreas de ocupação, a melhoria do desempenho da pessoa nas áreas mais afectadas, desenvolvendo a autonomia e independência, a manutenção ou promoção das competências e funções atuais e a promoção do bem-estar na comunidade.
Para isso, a Equipa Terapêutica, desenvolve uma intervenção individual e grupal, realizando actividades pensadas de acordo com os interesses e necessidades dos residentes, nas quais se incluem o treino de AVD´s e AVDI´s, actividades de lazer, treino de competências sociais, actividades criativas, actividades de movimento, expressão corporal e musical, sessões de psicoeducação terapêutica, sessões de estimulação cognitiva e relaxamento, grupos de partilha e feedback e consultas individuais com o objectivo de promover a saúde física e mental do indivíduo.
Salienta-se que toda a intervenção desempenha o papel de catalisador, facilitando o estabelecimento de rotinas, experiência de novos papéis e a identificação de áreas vocacionais de interesse, sendo estas fundamentais para o processo de mudança e futura reintegração do residente na comunidade.
Por outro lado, na Unidade de Valbom, o processo psicoterapêutico assenta no modelo de entendimento biopsicossocial adaptado ao funcionamento de Comunidade Terapêutica. Esta metodologia de intervenção visa concretizar a manutenção sustentada da abstinência e encontra-se dividida em quatro fases distintas, no entanto, comunicantes, sendo que de fase para fase o grau de autonomia e responsabilização vai aumentando, bem como a abertura ao exterior vai sendo alargada.
Na Primeira Fase, o indivíduo deve ser integrado no seu grupo de tratamento de forma a iniciar-se o seu processo psicoterapêutico. É expectável que o sujeito tome consciência do espaço em que se encontra, que compreenda o modelo de tratamento, ao mesmo tempo que se dá início à partilha de danos e consequências associados aos consumos e estilo de vida praticado até então. Ao mesmo tempo, deverá criar-se as bases necessárias no sentido de operacionalizar-se o processo de luto da sua relação com a substância e todo o estilo de vida a elas associado. É também imperativo nesta fase, a regulação dos ciclos biológicos, nomeadamente, sono-vigília e alimentação, bem como, a sensibilização para práticas de vida em sociedade, regras básicas de socialização, cuidados de higiene primários e arrumação do espaço pessoal.
Na Segunda Fase de Tratamento, o utente já se encontra mais integrado no funcionamento da Comunidade Terapêutica e no seu grupo de tratamento, mais consciente da sua problemática e das suas motivações e por isso gradualmente vai assumindo maiores responsabilidades quer perante si próprio, quer perante os outros. Trata-se de momentos terapêuticos em que muita coisa é nova e experimentada mas com suporte e retaguarda. Nesta fase de tratamento continua-se a sedimentar e valorizar o aprendizado investindo-se na consciencialização da conduta aditiva e dos mecanismos de defesa, nos principais bloqueios à recuperação, na capacidade de se perdoar a si próprio e aos outros e no desenvolvimento e implementação de estratégias que visem enfrentar as principais dificuldades, visando atingir o estádio de manutenção. Pelo exposto, esta segunda etapa configura-se como uma das mais importantes ao longo de todo o processo de tratamento.
Na Terceira Fase a abertura ao exterior é maior, a responsabilidade perante si e perante o grupo cresce consideravelmente a ponto de se tornarem uma figura de referência no funcionamento da comunidade para os elementos mais novos. Este processo decorre de uma elaboração contínua do projecto de vida que vem a ser projectado desde o início do tratamento. Nesta etapa do processo individual de cada utente, inicia-se o desenvolvimento de um conjunto de competências que lhes permitem gerir a sua vida de uma forma assertiva e em consonância com um estilo de vida ajustado à vivência em sociedade. Ainda neste ponto, a fase de luto, quer do consumo de substâncias psicoactivas, quer do estilo de vida que a caracteriza encontra-se consolidado. O utente atingiu a fase da manutenção e encontra-se preparado para iniciar a sua reinserção familiar, social e profissional.
Na Quarta e Última Fase de tratamento e de uma forma mais concreta, o utente tem que delinear o seu projecto de vida após a saída da Comunidade Terapêutica e começar de uma forma mais objectiva a concretizá-lo. Os objectivos centrais desta fase são a separação do indivíduo da Comunidade Terapêutica e a transição bem-sucedida para a sociedade mais ampla. Nesta fase, o ponto nodal é o ensaio e a prática de tudo o que foi incorporado pelo utente na Comunidade Terapêutica enquanto fase estrutural de apoio e suporte, procurando-se que o envolvimento com o mundo exterior seja maior pelo ajustamento das aptidões sociais e psicológicas necessárias à vida fora da Comunidade Terapêutica. Em termos psicoterapêuticos investe-se substancialmente na partilha de dificuldades centradas na sua vivência no exterior e em dificuldades sentidas no “aqui e agora”, bem como, na prevenção de futuras recaídas (processo já iniciado embora de forma ténue na segunda fase e intensificado ao longo do processo terapêutico).